Título: Os últimos elefantes
Música: The White Lamp - It's you (Ron Basejam Remix)
Série: MANGA LIVRE (2022-2023)
Os últimos elefantes
Em casa as crianças brincam atirando-se almofadas, o riso
feliz delas é a representação mais bela da vida neste planeta, pura alegria.
Todo o resto é engano e distração. Tens de ficar bem-disposto para transmitir
magnetismo positivo. Somos seres que vivem graças a um campo energético não
convencional, tudo o resto é o mundo com o qual nos relacionamos, a
publicidade, o que desejamos, o que amamos e o que nos encontramos nas nossas
mãos. Ou que encontramos nos nossos bolsos.
O que encontrei nesta humilde casa é um novo sonho partilhado
com a Lola, a proprietária, o projeto é de criar uma associação cultural onde é
mesmo mais necessário, na linha da frente entre o nada e o que pode oferecer o
destino, o projeto Casa Badjia é uma nova oportunidade para viver e lutar,
temos de fazê-lo acontecer. Conto também contigo, sério.
Estou a preparar-me para sair, está a ficar tarde, não quero
andar de noite, a esta hora sou um alvo fácil. Já é raro ver um homem branco a
andar por aí entre Mafalala e Alto Mãe, quanto mais às dez da noite.
Verifico a carteira: uma nota amassada de 20 meticais, o
rinoceronte e depois eles, a manada de elefantes, a noite verde de mil. Os meus
últimos mil meticais e depois boh.
Estou cansado de ter estes problemas e ter de me preocupar
com dinheiro, é evidente que é uma brincadeira, nunca serão suficientes e
continuarão a tornar as pessoas horríveis.
O dinheiro contribui a foder o país, a foder valores, o
sacrifício de muitos camaradas, a matar ainda brutalmente criaturas inocentes
para lhes roubar as presas, os órgãos, os bigodes, as garras, as barbatanas e
os sonhos, o rabo virgem de muitas pessoas e muitos outros orifícios se não
paramos de alimentar tantos vícios.
Estou cansado deste Monopoly global, mas nunca me canso de
viver, adorando pessoas, lugares, mergulhos em águas cristalinas, bebendo água
de coco, mesmo adicionando bom whisky, sentados à mesa em boa companhia,
escrevendo novas ideias para o amanhã que queremos nosso, positivo, funcional,
brilhante.
Tenho de encontrar uma solução, traçar um novo caminho que,
além de promover e manter viva a arte e a cultura, também sensibiliza para a
importância de respeitar a Mãe Natureza.
Quanto mais ela permanece livre e mais comemos, bebemos e
respiramos melhor, existimos melhor. Simbiose com um planeta no qual ainda
temos de aprender a viver de forma coerente e ecológica. Caso contrário, os
últimos elefantes que veremos serão os impressos nas notas de mil meticais.
Sempre se tivermos ainda notas de mil.
Quero ver-te a comer notas com a manteiga no pão se acabares
as badjias.
Com 7 notas, faz-se um concerto e uma música para animar o
mundo.
Com 26 letras, uma barra, pontuação e um teclado de envio,
quero mudar o mundo.
Vivemos no mesmo planeta, somos produtos de outras entidades,
adoramos sentir-nos únicos e especiais, mesmo porque podemos pensar, ergo o
somos se realmente o canalizarmos internamente.
Temos os mesmos problemas em todo o planeta, em todos os
continentes encontramos inimigos comuns: a ignorância, a corrupção, a poluição.
O que não é bom é realmente gorduroso e sujo, não é preciso
um desengordurante, mas: ética, literatura, filosofia, sentido cívico, amor.
Amor, querer fazer, ansiar por isso.
Viver com dignidade e parar de perder tempo a pensar como fazer
depois destes últimos mil meticais.
Contínua no livro "Manga Livre"
www.colectivoimprevisto.blogspot.com
info e encomendas: fareslxlover@gmail.com
Textos e fotos de Simone Faresin
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